A poucos dias da guerra iniciada pela Rússia na Ucrânia completar um ano, em 24 de fevereiro, os ucranianos temem que Moscou antecipe a ofensiva massiva que prepara há meses, a fim de evitar que as armas prometidas pelos ocidentais cheguem à linha de frente dos combates, fixada nas trincheiras do Donbass (leste).
A situação no leste da Ucrânia é cada vez mais “complicada”, principalmente ao norte da cidade de Bakhmut, admitiu nesta segunda-feira (13) a presidência ucraniana.
Analistas militares classificam os combates pela conquista desta cidade, que sequer tem grande importância estratégica, como os mais sangrentos em quase um ano de guerra. No entanto, eles estariam perto de dar ao Kremlin a vitória simbólica que tanto fez falta nos últimos meses.
Nos arredores de Bakhmut, os ucranianos enfrentam milhares de homens recrutados pelo grupo paramilitar russo Wagner, chamado em reforço por Vladimir Putin. São mercenários que não têm nada a perder, mortos aos milhares pela artilharia ucraniana, que começa a arrefecer.
No domingo, o fundador do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, do círculo próximo de Putin, anunciou a tomada de Krasna Gora, na mesma região, e nesta segunda já ataca Paraskoviyevka, na estrada que leva para Bakhmut. No Donbass, a luta é extremamente violenta, descrita como mais feroz do que em batalhas históricas da Segunda Guerra Mundial.
Em contraste com esse banho de sangue no leste, em Odessa, no sul da Ucrânia, a situação é mais calma, embora a cidade portuária seja frequentemente bombardeada por mísseis ou drones Shahed, de fabricação iraniana, como aconteceu na sexta-feira (10).
Homens se escondem em Odessa
Em Odessa, a guerra parece muito distante. Enquanto bebe um leite caramelizado, Anastasia Kovalevska-Slavova, uma professora de filologia, verifica seu telefone para ler as notícias mais recentes enviadas direto da linha de combate.
“Tenho tanta confiança em nossas Forças Armadas que durmo de pijama. Nos primeiros meses depois da invasão, eu dormia totalmente vestida e até calçada com meus sapatos, caso tivesse que sair de casa correndo, acordada por uma sirene de alerta de bombardeio”, conta. “Mas, agora, eu tenho total confiança”, afirma a professora.
Volodymyr Dugin, um reservista na defesa territorial, está mais preocupado. Ele esteve recentemente no sepultamento de um de seus treinadores militares, morto perto de Kherson (sul).
“O Exército russo provavelmente vai lançar uma grande ofensiva. É claro que acreditamos na vitória, mas a que preço? Gostaríamos que o equipamento prometido [pelos aliados ocidentais] chegasse o mais rápido possível, porque há realmente mais armas do outro lado”, explica ele.
O Exército ucraniano ainda está recrutando, diz Peter Obukhov, um político municipal.
“Na cidade, há soldados que entregam convocatórias aos homens e alguns desses homens não ousam mais sair à rua. Este processo de mobilização aumentou, porque é preciso dizer que a tática russa de enviar milhares de pessoas para o massacre também nos obriga a reforçar nossos batalhões”, lamenta.
Para lidar com a falta de soldados, o Exército ucraniano estendeu a lei marcial por três meses. *Informações RFI