O sobrevoo do país, na semana passada, por um balão chinês, suspeito por Washington de ser um dispositivo espião, levanta questões sobre os métodos de coleta de informações de Pequim.

A administração dos EUA acusa regularmente a China de espionar seu território ou o de seus aliados usando diferentes estratégias. 

O caso do balão renovou a tensão entre os dois países, mas Pequim tem sido regularmente apontada pelos serviços americanos — e mais amplamente ocidentais — em casos de suposta espionagem nos últimos anos. Casos nos quais a tecnologia digital desempenha um papel cada vez mais central.

Um grupo de serviços de inteligência dos Estados Unidos estimou, em 2022, em relatório anual, que a China representava “a mais ampla, ativa e persistente ameaça de espionagem cibernética” para o governo e o setor privado.

Em 2021, os Estados Unidos e seus aliados da OTAN acusaram diretamente a China de realizar uma campanha global de espionagem cibernética. Ao mesmo tempo, e de forma mais concreta, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos suspeitava que quatro cidadãos chineses – três oficiais de segurança e um hacker contratado – tinham como alvo dezenas de empresas, universidades e agências governamentais nos Estados Unidos e no exterior.

De acordo com os países ocidentais, Pequim também depende de cidadãos chineses no exterior para coleta de dados e roubo de tecnologias sensíveis. Um dos casos mais divulgados é o do engenheiro Ji Chaoqun, que chegou em solo americano em 2013 com visto de estudante. Ele foi condenado no mês passado, nos Estados Unidos, a oito anos de prisão por ter fornecido aos serviços de inteligência chineses informações sobre cientistas americanos que poderiam ser recrutados como fontes de informação.

No ano passado, um tribunal dos EUA também condenou um oficial de inteligência chinês a 20 anos de prisão por roubar tecnologia de empresas aeroespaciais americanas e francesas. 

Xu Yanjun foi considerado culpado de desempenhar um papel de liderança em um esquema de cinco anos apoiado pelo Estado chinês para roubar segredos comerciais da GE Aviation e do grupo francês Safran. 

Em 2020, Wei Sun, engenheiro naturalizado chinês que trabalhava na defesa para o grupo Raytheon, também foi condenado à prisão, após levar para a China um computador da empresa contendo informações sigilosas sobre um sistema de mísseis americano.

“Delegacias” clandestinas

Além de coletar informações estratégicas, a China possui “delegacias” clandestinas nos Estados Unidos e em vários países europeus, diz a organização de direitos humanos Safeguard Defenders em relatório publicado em setembro de 2022. 

Não declaradas, essas estruturas monitorariam dissidentes ou exerceriam pressão, de acordo com a organização com sede em Madri.

O pesquisador Marc Julienne, chefe de atividades China no Asia Center do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri), confirma que o objetivo de funcionários clandestinos ou civis ligados às autoridades que trabalham para esses escritórios é efetuar “espionagem dentro da diáspora chinesa e influenciar, ao capitalizar essas comunidades para promover os interesses do país”. Além disso, eles monitoram outros estrangeiros, como os uigures, os taiwaneses e os tibetanos.

Uma prática “absolutamente ilegal” de acordo com o direito internacional e que, além disso, vai contra o próprio princípio fundamental de não ingerência do qual a China se orgulha. Em novembro, a Holanda ordenou que o governo chinês fechasse duas “delegacias de polícia” em seu território. Embora negue as acusações, Pequim fechou duas dessas estruturas em Praga, segundo autoridades tchecas. *Informações RFI

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