Um ativista pró-democracia pede a libertação da jornalista chinesa Zhang Zhan, nas ruas de Hong Kong, em 28 de dezembro de 2020. AP – Kin Cheung

Por:RFI

A blogueira chinesa Zhang Zhan, presa durante quatro anos por ter publicado vídeos criticando a política sanitária da China durante a pandemia de Covid-19, foi finalmente libertada, anunciou a Ong Repórteres sem Fronteiras (RSF) nesta quarta-feira (22).

De acordo com as Ongs de direitos humanos, essa ex-advogada, que às vezes se apresenta como jornalista-ativista, está, no entanto, sob vigilância e sua liberdade de movimento continua restrita.

Em fevereiro de 2020, Zhang Zhan visitou Wuhan, a cidade no centro da China onde o vírus responsável pela Covid-19 foi descoberto. Na época, seus 14 milhões de habitantes estavam proibidos de deixar a cidade.

Com um smartphone na mão, a blogueira foi até o fundo dos prédios onde haviam sido erguidas barreiras e recrutados guardas para manter os moradores confinados em suas casas.

Zhang Zhan publicou mais de 100 vídeos em seus canais do YouTube, WeChat e Twitter (X), antes de ser dada como desaparecida, em 14 de maio de 2020, em Wuhan. No dia seguinte, as autoridades chinesas anunciaram que ela havia sido detida.

Em seus vídeos, republicados em sites chineses e estrangeiros, ela questionou a equipe responsável pela aplicação da política de saúde das autoridades, que ela considerava “uma grave violação dos direitos humanos”.

Presa em maio de 2020, ela foi condenada no final do mesmo ano por “incitar a agitação”, um termo frequentemente usado na China contra pessoas que incomodam as autoridades.

Zhang Zhan deveria ter sido libertada em 13 de maio, mas desde então não havia sido publicada nenhuma informação a seu destino.

Um vídeo curto mostrando a blogueira, divulgado nesta quarta-feira (22) pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF), parece indicar que ela realmente foi libertada como planejado.

“Às 5 da manhã do dia 13 de maio, a polícia me deixou na casa do meu irmão mais velho em Xangai”, diz ela no vídeo. “Obrigada a todos por sua ajuda e preocupação”, diz. A RSF afirma ter obtido o vídeo “por meio de um intermediário”.

Embora Zhang Zhan pareça ter sido libertada, “seus contatos com o mundo exterior e sua vida cotidiana estão sob vigilância”, disse Jane Wang, uma ativista baseada no Reino Unido que participou da campanha pela libertação da blogueira, na rede social X. “A RSF continua convencida de que a libertação de Zhang Zhan é a coisa certa a fazer”.

Por sua vez, “a RSF continua preocupada com sua situação e enfatiza que a liberdade parcial não é liberdade alguma”, declarou a organização nesta quarta-feira.

Os ativistas de direitos humanos expressaram preocupação com a saúde de Zhang Zhan, que entrou em greve de fome na prisão para protestar contra sua condenação.

Incerteza quanto ao futuro

Mas ainda não está claro o que acontecerá com ela. Questionado em uma coletiva de imprensa na segunda-feira (20), um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Pequim se recusou a confirmar a libertação da jornalista, que completou 40 anos em setembro.

“Não conheço os detalhes específicos, mas o que posso dizer é que a China é um país governado pelo Estado de direito. Qualquer pessoa que infrinja a lei deve ser punida”, respondeu.

Desde que Xi Jinping chegou ao poder em 2012, ele liderou uma cruzada em grande escala contra o jornalismo, conforme revelado no relatório da RSF “O grande retrocesso do jornalismo na China”, publicado em dezembro de 2021. O documento detalha as tentativas de Pequim de controlar a informação e a mídia dentro e fora de suas fronteiras.

A China ocupa o 179º lugar entre 180 países no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2023 da RSF e continua sendo o maior predador de jornalistas e ativistas da liberdade de imprensa do mundo, com pelo menos 115 ainda atrás das grades. (Com AFP e RSF)

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